Dr. João Luciano de Quevedo

20 de jan de 20222 min

Depressão e ansiedade crescem quase 30% durante pandemia

Depressão aumenta em 28%, e ansiedade, em 26%, durante a pandemia de Covid-19. Mulheres e jovens são o grupo mais afetado, segundo estudo internacional.

A cada década, os transtornos mentais ganham mais espaço entre os grandes problemas da saúde mundial. A depressão e a ansiedade são os mais representativos deles, em número e também por suas consequências, como incapacidade e suicídio.

A taxa crescente desses transtornos é determinada pela interação de diversos fatores, biológicos, psicológicos, sociais, econômicos e ambientais. A pandemia de Covid-19 evidenciou a relação desses fatores determinantes, tanto por seus efeitos diretos, como efeito da infecção no cérebro e respostas psicológicas, tanto os indiretos, com as consequências econômicas e sociais, como o isolamento social, mudança de rotina, fechamento de escolas e locais de trabalho e desemprego.

Para estimar os impactos da Covid-19 na saúde mental, como forma de trazer informações para os sistemas de saúde e auxiliar em melhorias, pesquisadores da Universidade de Queensland, da Austrália, e da Universidade de Washington, dos Estados Unidos, fizeram o primeiro estudo que avalia a prevalência e carga global de depressão e ansiedade em 2020, publicado na revista The Lancet.

A pesquisa mostrou que a depressão aumentou quase 28% e a ansiedade 26% durante a pandemia.

Mulheres foram mais afetadas

Para ambos os transtornos, o sexo feminino foi mais afetado que o masculino (depressão aumentou aproximadamente 30% nas mulheres, enquanto que nos homens 24%, ansiedade em quase 28% em mulheres, em 22% em homens).

Os autores acreditam que a diferença entre os sexos se deve pelas responsabilidades aumentadas, geralmente sobre as mulheres, de cuidar, pelas desvantagens financeiras, por elas terem salários mais baixos e empregos menos seguros, e por ser o grupo mais acometido pela violência doméstica, que também aumentou durante o período de confinamento.

Jovens mais que adultos

Outro dado mostrado foi sobre a idade, indivíduos mais jovens foram mais afetados do que os mais velhos.

A pandemia interrompeu a educação global de mais de 1,6 bilhões de alunos, além de restringir o contato social dos jovens, o que afetou o desenvolvimento de aprender e interagir. Além disso, os jovens possuem maior probabilidade de ficarem desempregados, o que justificaria a diferença entre as idades, segundo os pesquisadores.

Países isolados e infectados

Em relação à localização, os países que mais aumentaram as prevalências dos transtornos foram aqueles com altas taxas de infecção viral e com menor circulação de pessoas (pelas medidas de isolamento social).

Como mostrou o estudo, a Covid-19 é responsável por sequelas de longo prazo em toda a população mundial. Medidas de bem-estar e assistência médica são chaves no enfrentamento desses desafios. Quanto antes a intervenção, melhor o prognóstico.

Referência

João Luciano de Quevedo

Médico Psiquiatra - Doutor em Ciências Biológicas

CRM-SC 9.060 | RQE 5.058

Coordenador do Programa de Psiquiatria Translacional e Diretor da Clínica de Depressão Resistente ao Tratamento da Universidade do Texas (UTHealth), EUA.

Colaboração: Maria Eduarda Mendes Botelho