Dr. João Luciano de Quevedo
Alzheimer: descoberta substância que pode interromper ou prevenir a doença
A substância Interleucina 33 (IL-33) foi identificada como essencial para o processo de prevenção e até de interrupção do progresso da Doença de Alzheimer. O psiquiatra brasileiro Dr. João Quevedo, do InJQ e professor da Universidade do Texas, é um dos pesquisadores que assinam o artigo, publicado na revista Molecular Psychiatry.

O que é a Doença de Alzheimer?
A Doença de Alzheimer (DA) é uma patologia degenerativa das células cerebrais que, por consequência, compromete lentamente as capacidades gerais do indivíduo afetado.
Geralmente, a primeira manifestação é sobre a memória recente. Com a progressão da doença, afeta a fala, a capacidade de compreensão, de coordenação de movimentos, até chegar a uma dependência para executar todas as tarefas diárias, além de predispor a infecções.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2030, haja mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo vivendo com DA, o dobro do que foi em 2012. Isso acontece em decorrência do aumento da expectativa de vida da população, já que a DA tende a dar seus primeiros sinais em média aos 60 anos.
Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?
O diagnóstico é feito pela avaliação médica neuropsicológica, auxiliada por exames de imagem, como tomografia e ressonância. Isso acontece já com a doença em progressão, por isso, os tratamentos atuais buscam estabilizar a doença e oferecer maior qualidade de vida para os pacientes.
Entretanto, vários estudos já mostram que há biomarcadores que, com a avaliação especialista, ajudam na identificação da doença, como a detecção das proteínas beta-amiloide e tau. Elas são importantes porque o acúmulo delas, decorrente da metabolização anormal, faz com que aconteça a morte dos neurônios.
Descoberta científica na UTHealth
Uma pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas (UTHealth), em Houston, descobriu que outra substância também está envolvida na DA: a Interleucina 33 (IL-33).
Segundo o autor sênior do artigo e professor da da UTHealth, Dr. Yahuan Lou, a IL-33 seria importante para controlar e acelerar a remoção dos “lixos” do cérebro. Os neurônios saudáveis descartam as proteínas anormais, como se estivessem levando o lixo para fora.

Na meia-idade, por volta dos 40 anos, os neurônios envelhecem rapidamente, produzindo mais resíduos. Isso dificulta o corpo a manter a função de descarte, por vezes aglomerando muitas células que deveriam ser retiradas. Esse processo é chamado de dano oxidativo.
Esperança no tratamento
A IL-33 ativada possibilita a produção de uma molécula chamada aquaporina 4, que funciona como uma bomba de água, lavando as proteínas que se acumulam no cérebro. Se em falta, não há limpeza adequada desses locais.
Com o tempo, com esse processo de antienvelhecimento prejudicado, as células cerebrais começam a morrer e a não funcionar corretamente, com uma taxa ainda maior por volta dos 60 a 65 anos. Assim, quando há defeito nestes mecanismos, o envelhecimento cerebral fica acelerado, levando ao mal de Alzheimer e à morte.
Como esse processo inicia geralmente na meia-idade, ele propõe que, entre a idade adulta e a velhice, seja um bom período para rastrear os níveis de IL-33 e os outros biomarcadores relacionados à doença. Desta forma, haveria um diagnóstico precoce, que possibilitaria fazer melhores intervenções clínicas, uma vez que com o cérebro já em estado degenerativo é tarde para reverter os danos.
Para Lou, nos pacientes em que houver aumento nos resíduos cerebrais juntamente à diminuição dos níveis de IL-33, uma intervenção imediata seria necessária. Isso poderia ser por injeções de IL-33, que melhorariam a função de limpeza do cérebro, além de avaliar se haveria a drenagem das placas de proteínas acumuladas.
Diagnóstico mais cedo
O objetivo desse tratamento seria manter o cérebro mais saudável enquanto ainda é jovem, para diminuir o risco de doenças neurodegenerativas e reduzir o processo de envelhecimento cerebral.
De acordo com o autor:
“Não podemos curar a doença de Alzheimer, mas podemos interromper o progresso ou até mesmo prevenir a doença logo no início.”
Outros autores do artigo, publicado na revista Molecular Psychiatry, são o Dr. João Quevedo, Dr.ª Ines Moreno-Gonzalez, Dr. William F. Glass II, Dr.ª Tatiana Barichello, Jean Wu, Junbo Shim, Colin Carlock e April Ross, todos da UTHealth.
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João Luciano de Quevedo
Médico Psiquiatra - Doutor em Ciências Biológicas
CRM-SC 9.060 | RQE 5.058
Coordenador do Programa de Psiquiatria Translacional e Diretor da Clínica de Depressão Resistente ao Tratamento da Universidade do Texas (UTHealth), EUA.